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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Revolução Filosófica e Científica



REVOLUÇÃO FILOSÓFICA E CIENTÍFICA

 A idade Moderna foi um período de extraordinárias transformações científicas e tecnológicas. Nesta Postagem vamos apresentar estas transformações, especialmente sobre astronomia.

 O ano de1543 foi um momento decisivo para a ciência, por ter sido o ano de publicação de dois trabalhos fundamentais: De Revolutionibus Orbium Coelestium (Sobre a revolução das esferas celestes), de Nicolau Copérnico, e De Humani Corporis Fabrica (Sobre a fábrica do corpo humano), de Andreas Versalius. A importância das duas obras reside nas transformações que elas causaram na noção de ciência da época.

 De Revolutionibus Orbium Coelestium

De Humani Corporis Fabrica

AS ORIGENS ANTIGA E MEDIEVAL
 
 As origens da ciência moderna podem ser encontradas nos estudos realizados pelos gregos, desde a época clássica, mas também em grande parte durante o período helenístico. Diversos estudiosos, como Aristóteles, Ptolomeu, Pitágoras, Hipócrates e dezenas de outros se preocuparam em investigar o mundo de um ponto de vista racional ou objetivo.

A COSMOLOGIA ARISTOTÉLICO-PTOLEMAICA

 O termo cosmologia, que significa descrição do universo, expressa a forma pela qual um filósofo ou um cientista entende o “funcionamento” do mundo.

 Na cosmologia Aristotélica (desenvolvida a partir de premissas puramente filosóficas), a Terra estava localizada imóvel no centro do universo, e todos os planetas e estrelas giravam em órbitas circulares ao seu redor. A região terrestre era composta de quatro elementos – do centro para os extremos: Terra, água, ar e fogo -, que eram sujeitos a mudanças constantes. Esses elementos, quando estivessem fora de seu lugar natural, se moveriam naturalmente para a direção correta. Dessa maneira a terra e a água tenderiam a cair, o fogo e o ar subiriam. Já o mundo cósmico seria composto de um quinto elemento, o Éter (chamado pelos romanos de quintessência), que, ao contrário dos elementos terrestres, era imutável e incorruptível e se movia (como componente dos corpos estelares) em trajetórias circulares ao redor da terra, o Universo era Geocêntrico.

 O astrônomo Ptolomeu de Alexandria (83 – 161 d. C.) desenvolveu as ideias de Aristóteles. Ptolomeu concebeu um movimento de epiciclos: a órbita dos planetas não seria circular, mas eles orbitariam em uma trajetória circular ao redor de um ponto que, por sua vez, orbitaria em uma trajetória circular ao redor da terra. A obra de Ptolomeu foi muito apreciada durante a Antiguidade e pelos Árabes. A cosmologia escolástica também se baseou nessa visão, planetas e estrelas, imutáveis e incorruptíveis, seriam parte da perfeição divina.

A MEDICINA ANTIGA E MEDIEVAL

 Os primeiros estudos de medicina antiga foram feitos por Hipócrates de Cós (460 – 370 a.C.). No período romano, Galeno (129-200 d.C.) insistia em uma abordagem racional para a medicina e fazia experiências de observações da fisiologia de animais. Seus estudos influenciaram muito a medicina árabe, e dessa forma passaram ao ocidente a partir do Século XII. No entanto, seu trabalho continha diversos equívocos – em grande parte porque a lei romana lhe impediria de analisar corpos humanos -, que foram sendo apontados pelos muçulmanos e depois pelos europeus.
 O sistema fisiológico de Galeno compreendia três funções vitais: o cérebro era o centro do sistema nervoso, o coração e o fígado eram os centros, respectivamente, do sistema arterial e do sistema venoso (das veias), entendidos por ele como diferentes. Em sua concepção, as doenças eram um desequilíbrio entre os humores vitais (líquidos) do corpo, e a cura consistiria simplesmente em restaurar o equilíbrio entre eles.



CIÊNCIA MODERNA

 Ciência e o tipo de experimentação que for feita seguindo-se uma série de objetivos e de acordo método determinado – o chamado método científico. Cada ciência tem as suas formas particulares de investigação que foram estabelecidas nos séculos XVI e XVII.


OS PRECURSORES DO MÉTODO CIENTÍFICO

 O pensamento escolástico, impulsionado pelas obras da antiguidade, preservadas pelos árabes, promoveu o intercâmbio de ideias e a colaboração dos estudiosos de diversas Universidades Medievais, e foi essencial para a revitalização do pensamento europeu no final da Idade Média.

 Robert Grosseteste (1175-1253) enfatizava a necessidade de se recorrer à matemática para a compreensão do mundo. O empirista Roger Bacon (1214-1294) elaborou estudos em diversas áreas do conhecimento, tais como ótica matemática e alquimia, sempre baseados em observações cuidadosas. Guilherme de Occam (1288-1347) defendeu a ideia de que as hipóteses devem ser formuladas de maneira mais simples possível. Este princípio é conhecido como navalha de Occam. Juntas, essas três premissas – matematização, experimentação e simplicidade nas formulações – constituem os alicerces básicos das teorias científicas modernas.

O MODELO HELIOCÊNTRICO

 A publicação de De Revolutionibus Orbium Coelestium (Sobre a revolução das esferas celestes), de Nicolau Copérnico, em 1543, foi um evento muito importante para a história da ciência, por ela estar de acordo com os três princípios anteriores, foi proposta a partir de observações experimentais, fundamentadas em cálculos matemáticos e explica os mesmos fenômenos de uma forma muito mais simples do que Ptolomeu havia feito.


 Copérnico estabeleceu um modelo matemático para o universo, que considerava o Sol (e não a Terra, como dizia Aristóteles) o centro do Universo. A Terra seria mais um planeta semelhante aos demais.
 A maior oposição não vinha da Igreja, mas dos estudiosos aristotélicos, foram eles que apontaram as falhas do modelo copernicano de universo, e para muitas dessas questões Copérnico não tinha respostas. Para explicar as incongruências, Copérnico se viu forçado a adotar os epiciclos de Ptolomeu, sem nenhuma base científica para tal. Esta é a grande falha em seu modelo.

 Em 1610, o físico, astrônomo, matemático e filósofo Galileu Galilei, fazendo observações com o telescópio (aparelho que havia aperfeiçoado), descobriu as quatro luas de Júpiter. A ideia de que outro planeta pudesse ter satélites contrariava o modelo aristotélico de universo e praticamente confirmava as teorias de Copérnico.

 Galileu Galilei

O JULGAMENTO DE GALILEU GALILEI

 Galileu era um polímata: físico, matemático, filósofo, astrônomo, aperfeiçoou o telescópio, desenvolveu equipamentos militares, estudou as leis da aceleração e vários outros princípios da Física Clássica, que mais tarde seria sistematizada por Isaac Newton.
 Galileu não era ateu, muito pelo contrário, era profundamente católico e muito bem relacionado. Quando propôs sua teoria, jamais teve a intenção de desafiar a autoridade da Igreja: estava apenas contestando o que as experimentações e cálculos matemáticos afirmavam. O problema começou quando Galileu tentou explicar que o heliocentrismo estaria de acordo com as escrituras, mas usando argumentos que entravam em choque com as doutrinas aceitas pela Igreja desde o Concílio de Trento.
 Alguns religiosos, francamente adversários de Galileu por suas ideias, que eles interpretavam como “heréticas”, conseguiriam ganhar a atenção da cúpula da Igreja para o tema e colocar Galileu diante da Inquisição. Foi um problema religioso, portanto, e também político, muito mais do que uma questão científica.
 Convidado pelo Papa Urbano VIII a retratar-se, Galileu publicou uma obra em forma de diálogo na qual um dos personagens manifestava as opiniões da Igreja (e repetia as palavras do próprio Papa) de um modo ridículo e simplório. Com essa ousadia, Galileu perdeu seu maior aliado, o Papa, e precisou enfrentar acusações de heresia.
Abaixo a transcrição do juramento feito por ele.

" Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vincenzio Galilei de Florença, com a idade de setenta anos, sendo trazido pessoalmente a julgamento, e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos a Reverendíssimos Lordes Cardeais, Inquisidores Gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação herética, tendo diante de meus olhos o Sagrado Evangelho que toco com as minhas próprias mãos, juro que sempre acreditei, e, com a ajuda de Deus, acreditarei no futuro, em todo artigo que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana mantém, ensina e prega. Mas por ter sido ordenado, por este Conselho, a, abandonar completamente a falsa opinião que mantém que o Sol é o centro e imóvel, e proibido de manter, defender ou ensinar a referida falsa doutrina de qualquer maneira (...) Estou desejoso de remover das mentes de nossas Eminências, e de todo Cristão Católico, essa veemente suspeita acertadamente mantida a meu respeito, portanto, com sinceridade de coração e fé genuína, eu abjuro, maldigo e detesto os Referidos erros e heresias, e, de modo geral, todos os outros erros e seitas contrários à referida Santa Igreja; e juro que jamais no futuro direi ou asseverarei seja o que for, verbalmente ou por escrito, que possa motivar uma. Suspeita similar de mim; mas que se eu souber de algum herético, ou de alguém suspeito de heresia, denunciá-lo-ei a este Santo Conselho, ou no Inquisidor ou Ordinário do lugar em que eu esteja. Juro, mais ainda, e prometo que cumprirei observarei plenamente todas as penitências que a mim tenham sido ou venham, a ser impostas por este Santo Conselho. Mas, caso aconteça que eu viole qualquer de minhas promessas, juramentos e protestos citados, eu me sujeito a todas as dores e punições decretadas a promulgadas pelos sagrados cânones e outras constituições gerais e particulares contra delinquentes dessa descrição. Assim, que Deus me ajude, a Seu Sagrado Evangelho, que eu toco com as minhas próprias mãos; eu, o acima citado Galileu Galilei, abjurei, jurei, prometi e me comprometo como acima; e, em testemunho do que, com a minha própria mão subscrevi o presente escrito de minha abjuração, que eu recitei palavra per palavra.”.

Ao sair do tribunal, Galileu disse uma frase célebre: "Epur si Muove!", que traduzida diz, "E, no entanto, ela move-se".

 A Igreja continuaria por muito tempo admitindo o sistema geocêntrico, mas aos poucos o processo contra Galileu foi sendo revisto. No século XIX, todas as obras que defendiam o sistema copernicano foram removidas do Index e, em 1992, o papa João Paulo II retratou-se pela forma como o processo contra Galileu foi conduzido.

O ÁPICE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA: ISAAC NEWTON

 Isaac Newton nasceu no mesmo ano da morte de Galileu (1643), Newton foi físico, filósofo, alquimista, teólogo e matemático e dirigiu a Royal Society de Londres, a mais prestigiada academia de ciências da Inglaterra. Estudou os fenômenos óticos, a gravitação, a hidrostática e sistematizou as leis do movimento (dinâmica) que levam o seu nome. Para fundamentar seus trabalhos, desenvolveu uma poderosa ferramenta matemática: o cálculo diferencial e integral.


 Sua Obra mais importante foi intitulada Philosophiae naturalis principia mathematica (princípios matemáticos da Filosofia Natural). Nos três volumes desta obra, Newton descreve as leis do movimento, da gravitação universal e os modelos matemáticos precisos que descrevem as leis dos movimentos dos planetas, que haviam sido elaboradas por Johannes Kepler (1571-1630). Os principia estabeleceram os fundamentos da Física Clássica, que só seriam superados com as teorias da relatividade de Albert Einstein, e a Mecânica Quântica. Mas essas teorias só tem aplicação em casos extremos – para corpos em velocidades muito próximas à da Luz no vácuo (300.000 km/s) e corpos muito pequenos (como átomos).

A FILOSOFIA DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA: A MATEMATIZAÇÃO DA NATUREZA
 Um elemento importante para a formulação dos conceitos da ciência moderna foi a descrição do mundo a partir de pressupostos matemáticos.
 Um dos principais formuladores do conceito de matematização do mundo foi o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650). Em seu famoso livro “O discurso do método” (1637) Descartes concebia o mundo como um sistema mecânico perfeito, posto em funcionamento pela matemática, e que, portanto, poderia ser conhecido com exatidão.


 Segundo Descartes (1973, p. 45-46), para identificar a verdade basta seguir quatro regras ou princípios, que são:
  • O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.
  • O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.
  • O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
  • E o último, o de fazer toda parte enumeração tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.

O EMPIRISMO

 A experimentação é um dos métodos mais consagrados dentro da prática científica. É o caso da química, que sempre dependeu das experiências em laboratório para formulação de suas teorias, e de diversos ramos da Física Clássica.

 O método científico mais rígido estabelece que uma experiência, para ter o status de científica, precisa atender, entre outros, ao requisito de ter sido testada em experiências controladas e que possam ser reproduzidas à exatidão em qualquer lugar. Essa definição levou a um impasse em relação às chamadas Ciências Humanas (História, sociologia, Antropologia etc.) em que é praticamente impossível reproduzir nos mínimos detalhes uma mesma experiência.

A MEDICALIZAÇÃO DO CORPO

 Alguns estudiosos recentes, como Michel Foucault (1926-1984) e Michel de Certeau (1925-1986), consideravam que uma das características da modernidade que mais aparece na ciência é a ideia de que, para dominar uma determinada atividade, é necessário descrevê-la com precisão, separar suas diferentes partes (análise) e examiná-las uma a uma. Na medicina e na anatomia, essa “nomeação” e ocupação dos espaços é a regra do Renascimento.

 Certeau dizia que o corpo só passa a existir no momento em que recebe nomes, em que cada uma das suas partes é definida com precisão. A partir desse momento, o corpo – e a saúde como um todo – passa a ser objeto de estudo da ciência e se sujeita aos mesmos critérios de investigação, formulação e verificação de hipóteses que os demais fenômenos da natureza.


O DESENCANTAMENTO DO MUNDO

 O imaginário medieval e renascentista era repleto de fenômenos inexplicáveis, monstros, seres exóticos do outro lado do mundo (antípodas) e locais fantásticos ou milagrosos nas novas terras (como a fonte da juventude). Aos poucos, a exploração dos territórios até então desconhecidos e o predomínio da razão sobre as especulações foram retirando do pensamento europeu esse “componente mágico” ou fantástico, e fenômenos que antes eram tidos como reais passaram a ser desqualificados como superstições. A ciência, ao ser capaz de explicar (quase) todos os fenômenos, matematizar a realidade e nomear o desconhecido, criou um modelo previsível de universo, que passou a ser considerado a única forma aceitável de se entende-lo.

 O anticlericalismo e o racionalismo iluminista, a “física social” do Positivismo e o materialismo histórico do Marxismo são fenômenos modernos, pois se baseiam no método científico para tecer suas descrições da sociedade.



Referências Extras/ Imagens
DAUWE, Fabiano. História Moderna, Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial, 2008;


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