A Primeira Guerra Mundial e
O Mundo Contemporâneo
A História ou Idade Contemporânea compreende o
espaço de tempo que vai da Revolução Francesa (1789) aos nossos dias.
A idade contemporânea está marcada, de maneira geral,
pelo desenvolvimento e consolidação do regime capitalista no ocidente e,
consequentemente, pelas disputas das grandes potências europeias por
territórios, matérias-primas e mercados consumidores. Como consequências das
disputas imperialistas, entre a última década do século XIX até a Primeira
Guerra Mundial, os territórios da Ásia e da África foram subjugados pelas
potências europeias, a América Latina se tornou área de influência dos Estados
Unidos.
Desenvolvimento
industrial e tecnológico, voltadas
ao conforto e instrumentos para guerras.
A laicização
do Estado consistiu basicamente na separação política entre Igreja e Estado.
A substituição
do estado monárquico (governado por
representantes da nobreza e da igreja), pelo estado republicano (governado por membros da sociedade civil).
Essa mudança teve origem na revolução burguesa do
século XVIII.
A escola,
a imprensa e as propagandas serviram para difundir
um sentimento de identidade entre os
habitantes de uma nação. A exaltação do sentimento nacional é chamada de nacionalismo. Na história
contemporânea, as guerras agiram
como fator incentivador do nacionalismo.
Primeira Guerra Mundial
O processo de migração do campo para a cidade foi
outro fator importante, o desenvolvimento das cidades, a supremacia da
tecnologia e o incentivo ao nacionalismo estão entre as características
marcantes do tempo contemporâneo.
Esses fatores
são importantes para entendermos a “era da catástrofe” (HOBSBAWM, 2005):
período entre 1914 e 1945; entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
ANTECEDENTES DA
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)
Os principais países imperialistas (países cuja
forma de política visa à própria expansão, seja por meio de aquisição
territorial, seja pela submissão econômica, política e cultural de outros
Estados) foram, justamente, aqueles que se adiantaram no processo de
industrialização.
No mapa a seguir são apresentados os
principais estados imperialistas, assim como suas possessões.
Para o
sucesso de uma economia capitalista
baseada na produção industrial foi
necessário: infraestrutura urbana; mão de obra suficiente/barata; mercado consumidor; e domínio de regiões fornecedoras de matérias-primas.
Os conflitos
imperialistas consistiram na disputa das potências europeias por regiões que
forneciam matérias-primas para a indústria moderna. Essas mesmas regiões eram
vistas também como mercados consumidores de produtos industrializados. A luta por território e por mercado levou
os países imperialistas, por sua vez, a investir na produção e no armazenamento de armas e a criar mecanismos
de proteção econômica: estratégias que
tinham como objetivo impedir a
importação, através da taxação
de produtos estrangeiros. Esses fatores
somados forneceram as bases para a guerra.
Também é importante apontar o papel do nacionalismo
na guerra. O Nacionalismo exagerado (chauvinismo)
agiu na construção do sentimento de ódio em relação ao inimigo
estrangeiro. Aliás, o episódio que
desencadeou a Primeira Guerra Mundial – o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do império
austríaco – foi organizado por um grupo de chauvinistas sérvios, que desejavam a anexação dos territórios
eslavos dos Balcãs (Eslovênia e Croácia), então sob domínio do império
Austro-Húngaro. Ferdinando foi morto
em Sarajevo (Bósnia), em 28 de junho de 1914, pelo estudante Gavrilo
Princip, membro do grupo nacionalista radical denominado “Mão Negra” ou
“Unidade ou Morte”. Defendia o ideal pan-eslavista e lutava pelo fim das
influências austríacas.
arquiduque
Francisco Ferdinando
O nacionalismo
emergiu como desdobramento da Revolução Francesa
e da Era Napoleônica ou reação a
elas, representando um movimento paralelo à ascensão da burguesia ao poder. A ideia de soberania nacional, de autonomia como expressão da liberdade e uma certa concepção
romântica do povo. O nacionalismo potencializava
os fatores etnográficos, linguísticos,
religiosos e geográficos, e seu desenvolvimento, marcado por várias guerras,
desgastou as estruturas regionais e supranacionais que ainda existiam no início
do século XIX. De uma ideologia
democrática e progressiva, o nacionalismo foi se tornando, gradativamente,
numa concepção reacionária na
Europa. As tradições inicialmente invocadas como formadoras de determinada
identidade passaram a ser consideradas como traços da personalidade nacional. A
emergência de um sentimento de
superioridade coletiva serviu de instrumento
para a opressão de minorias (um conceito que surgia com o
nacionalismo).
O passado
de cada nação era contado de forma a mostrar
sua força e a união de seu povo. Desdobrava-se do nacionalismo a ideia de
um inimigo externo (outra nação),
encarado como responsável pelos problemas vividos pelo país. O Estado tinha
então um importante papel a cumprir. A generalização
da educação pública consolidou uma única
língua nacional, construiu uma única história e, para tanto, utilizou-se de antigas mágoas e
rivalidades. Era necessário forjar a noção da superioridade de um povo em
relação ao outro e criar, em caso de derrotas passadas, o desejo da revanche.
Entre os movimentos nacionalistas anteriores à Primeira Guerra estavam o
pan-eslavismo, o pangermanismo, e o revanchismo francês.
O pan-eslavismo
foi um movimento político e cultural motivado
pela Rússia que propunha a união de
todos os povos eslavos (povos indo-europeus, originários da Europa central
e oriental).
O pangermanismo,
por sua vez, foi um movimento que objetivava
reunir os povos germânicos sob uma mesma bandeira e um mesmo ideal. (Esse
movimento foi responsável pela
unificação da Alemanha no século XIX).
No “revanchismo
francês” a França pretendia recuperar o território da Alsácia-Lorena (região rica em minério de ferro e carvão), perdido para a
Alemanha na guerra Franco-Prussiana de 1870.
Os movimentos nacionalistas, somados à ideia de superioridade racial, serviram para legitimar as conquistas territoriais. Os novos colonizadores do século XIX
acreditavam estar levando a “civilização”. Por outro lado, ao mesmo
tempo em que os países imperialistas imprimiram sua política de conquista e expansão nacionalista e racista criaram,
entre os povos conquistados, um
sentimento de nacionalidade. Nesse
sentido, o nacionalismo também pode nascer
da resistência ao autoritarismo
das nações colonizadoras.
AS ALIANÇAS
ENTRE AS POTÊNCIAS MUNDIAIS
A Itália e a Alemanha foram umas das últimas nações
imperialistas a passar pelo processo de unificação nacional. Enquanto a
Inglaterra se unificou no século XVII e a França no século XVIII, a Itália e a
Alemanha encerraram as lutas pela centralização política apenas no século XIX.
Em menos de uma geração, a Alemanha transformou-se de um conjunto de estados economicamente
atrasados num país unificado e forte.
Impulsionada pela indústria pesada, com uma base tecnológica muito avançada, a Alemanha adquiriu status de potência em poucos anos.
As manufaturas produzidas pela indústria alemã
passaram a concorrer no mercado internacional com os produtos ingleses. O
império alemão também investiu em uma poderosa
marinha de guerra. Assim, sob o próspero desenvolvimento capitalista, a Alemanha
se estruturou militarmente e procurou formar alianças para enfrentar a
supremacia inglesa no mundo.
A Alemanha, unificada em 1871, formou um bloco
político e militar com o império Austro-Húngaro e com a Itália (Tríplice Aliança),
para combater a expansão da Rússia em direção ao Mediterrâneo, e as potências
imperialistas “tradicionais”: Inglaterra e França. Essas duas nações,
entretanto, uniram-se com a Rússia para combater a expansão germânica. Dessa
aliança surgiu a Tríplice Entente.
O INÍCIO DA
CATÁSTROFE: DOS BÁLCÃS PARA O MUNDO
Foi na Península
Balcânica que se concentraram os conflitos
que resultaram na declaração de guerra da Alemanha
à Rússia, em 1º de agosto de 1914.
A conquista
da Sérvia pela Áustria-Hungria foi
uma estratégia para eliminar a influência da Rússia nos Bálcãs. Por isso, a ação austríaca foi apoiada pela Alemanha. A Rússia, temendo as alianças entre a Alemanha e a
Áustria-Hungria, aliou-se com a França e a Inglaterra. O efeito foi desastroso.
Armou-se o ambiente explosivo! Qualquer faísca
colocaria tudo pelos ares. Foi o que aconteceu: no dia 28 de junho de 1914,
Francisco Ferdinando foi assassinado. Esse episódio colocou não apenas os
austríacos contra os sérvios, mas também os alemães contra os russos, e não tardou
para que outras potências, enquanto aliadas, entrassem na guerra.
A
GUERRA DE TRINCHEIRAS
Em princípio, a guerra iniciada pelos alemães era
para ter duração curta, como a guerra
entre a França e a Prússia de 1870 a 1871. Para combater a Entente na frente ocidental, o marechal
alemão Alfred Von Schlieffen decidiu por um ataque rápido contra a Bélgica e a França. Pelos seus cálculos,
esse conflito não duraria mais que 40 dias. Porém, seu plano fracassou. A eficiente técnica de defesa das trincheiras
adotada pelos franceses e belgas impediu a marcha apressada dos alemães.
Outra característica da Primeira Guerra Mundial foi
o uso de armas químicas, como o
temido “gás mostarda”, que queimava não apenas os pulmões, mas todo o corpo. Gases e lança-chamas foram usados na batalha de Verdun, a maior dessa guerra. Só nessa batalha se envolveram 2 milhões de soldados e a metade morreu.
O
DESFECHO DA GUERRA
Entre 1914 e 1917, os norte-americanos foram os principais
fornecedores de armas, alimentos e combustível aos estados aliados da Europa. Porém,
com o bloqueio dos alemães nos portos da Grã-Bretanha e da França, o lucrativo comércio
dos Estados Unidos foi interrompido. Foi assim, com a interrupção comercial
forçada e com a saída da Rússia do
conflito, que os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha em 1917.
Os longos quatro anos de guerra levaram os países envolvidos
na guerra à exaustão. Boa parte da população masculina produtiva estava sendo exterminada
nos campos de batalha. A Grande Guerra levou à morte oito milhões de soldados e nove milhões de civis. Sem contar os seis milhões de mortos por causa da gripe espanhola, e das vinte milhões de pessoas que ficaram
inválidas. Outro dado importante é que a Primeira Guerra foi o primeiro
conflito moderno com mais mortos civis
que militares. Muitos combates se deram dentro das próprias cidades.
A longa
duração do conflito levou os exércitos ao esgotamento físico e emocional. A fome foi o principal motivo
de deserção entre as tropas e de morte entre os civis. Os suprimentos eram
escassos nas cidades, por causa do bloqueio marítimo. Os submarinos alemães
causaram verdadeiro terror nos mares. O bloqueio foi uma das principais
estratégias da Primeira Guerra. Devido à longa duração da guerra, as pessoas
ficaram meses, anos sem suprimentos. O bloqueio marítimo provocou uma
verdadeira tragédia social.
O esgotamento de quatro anos de guerras acabou
enfraquecendo a Alemanha e influenciando sua derrota em 1918. Em 18 de novembro de 1918 foi assinado,
enfim, o armistício.
A Alemanha
foi, por sua vez, a nação responsável
pela guerra. Com o fim da guerra e a rendição da Alemanha e de seus
aliados, as nações vencedoras reuniram-se na cidade francesa de Versalhes para
assinar o tratado de paz. Antes, porém, um plano de paz foi proposto pelo
presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1856-1924), mas não foi aprovado
na íntegra, pois foi considerado muito “abstrato”
e não previa uma punição para a Alemanha.
Esse plano ficou conhecido como “Os 14
pontos de Wilson”.
Essa
proposta, apesar de se basear no princípio de justiça entre as nações, não satisfez os interesses de ingleses e
franceses. A Inglaterra não
estava disposta a ceder sua supremacia
nos mares e a França exigia uma reparação
da Alemanha. Sob essas condições, o Tratado de Versalhes foi redigido sob a
liderança dos vencedores: França, Inglaterra e Estados Unidos.
Entre os pontos aprovados no Tratado destacaram-se:
·
A criação da Liga das Nações.
·
A devolução do território da Alsácia-Lorena para a França.
·
A Alemanha deveria ceder seus territórios coloniais à Grã-Bratanha e à França e os
territórios
·
invadidos deveriam ser devolvidos.
·
O exército alemão seria reduzido a 100 mil soldados e o país não poderia
formar uma força
·
aérea. A marinha estava restrita a 15
mil militares e não poderia usar submarinos.
·
Os navios
mercantes da Alemanha seriam confiscados
pelas nações vencedoras,
·
principalmente pela França e pela Inglaterra.
·
A Alemanha deveria pagar 132 bilhões de marcos-ouro em trinta anos.
De fato, a Alemanha,
segundo o Tratado de Versalhes, foi a única nação responsabilizada
pela Grande Guerra. Além de ter de recompor seu país, tiveram que saldar suas dívidas com as nações vencedoras e reduzir drasticamente o
contingente militar do país. Futuramente esse sentimento de humilhação
contribuiu para que Adolf Hitler assumisse o governo da
Alemanha na década de 1930. Acontecimento
que acabou levando a Alemanha, a Europa e o mundo a uma nova e também catastrófica
guerra mundial.
Destaques do Tópico:
Ø As
características gerais do tempo contemporâneo: a laicização do Estado; o
desenvolvimento do sistema capitalista; as guerras imperialistas; o crescimento
das cidades.
Ø As duas guerras
mundiais – Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) – marcaram profundamente o século XX.
Ø Os antecedentes
da Primeira Guerra Mundial, chamada também de Grande Guerra: disputas
imperialistas na África, Ásia e conflitos nacionalistas na Europa.
Ø As alianças
políticas para a guerra entre as potências tradicionais (Inglaterra, França e
Rússia)
Ø Tríplice
Entente, e as novas potências (Alemanha, Itália e Áustria-Hungria) – Tríplice
Aliança.
Ø As principais
características da Grande Guerra: batalhas de trincheiras; o uso de armas
Ø químicas e a
estratégia de bloqueio marítimo.
Ø O Tratado de
Versalhes foi uma imposição dos vencedores à Alemanha, que foi responsabilizada
pela guerra.
REFERÊNCIAS:
Dauwe, Fabiano.
Sayão, Thiago Juliano. História
Contemporânea. Grupo Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial :
UNIASSELVI,2009.
IMAGENS:
Primeira Guerra
Mundial: http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/fotos-da-primeira-guerra-mundial-2/Fotos-da-Primeira-Guerra-Mundial-4.jpg
Mapa:
VISENTINI,
Paulo G; PEREIRA, Analúcia D. História do mundo contemporâneo: da Pax
Britânica do século XVIII ao choque das civilizações do século XXI.
Petrópolis: Vozes, 2008. p. 95.
arquiduque
Francisco Ferdinando:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f2/Archude_Franz_ferdinand.jpg/420px-Archude_Franz_ferdinand.jpg
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