BRINCAR
O Brincar
faz parte do nosso cotidiano, tanto no campo profissional quanto nos espaços
familiares e pessoais.
O brincar é uma atividade fundamental para:
- o crescimento e desenvolvimento da criança;
- o processo de humanização;
- a constituição da subjetividade;
- o aprender;
- a saúde;
- o processo de
socialização
Conceitos de Bachelard
(2002)
Os obstáculos epistemológicos são todas aquelas
coisas que perturbam nosso acesso ao conhecimento. Estes obstáculos podem ser
consequência das tradições, das resistências às mudanças.
As rupturas epistemológicas são as que nos permitem
avançar em direção ao novo e ao diferente. Aceitando a ideia de que as verdades
são contingentes. É dizer que os conhecimentos que chamamos de verdadeiros não são
para sempre.
Aprender
sobre o brincar supõe poder vencer tais obstáculos, É permitir-se viver essa
magia, entrar no mistério para deixar acontecer as metamorfoses que por meio do
brincar podemos provocar, nos outros e em nós mesmos.
Temos então duas atividades, jogar e brincar,
envolvendo o lúdico.
brincar é oriundo de um vocábulo do latim vinculum, que significa união, vínculo,
laço (MEDRANO, 2004).
Jogar, por sua vez, está associado a iocus, que significa divertimento,
zombaria. Também se relaciona com jogos regrados.
Lúdico, também derivado do latim ludus, significa jogo.
Brincar quando se trate das atividades livres,
espontâneas e criativas;
Jogar no caso de atividades regradas, planejadas e
controladas para um fim que não é o divertimento
por si próprio.
O
BRINCAR E O TEMPO
Quando necessitamos organizar, construir propostas,
conduzir situações nas quais o brincar/jogar esteja presente, devemos estar
muito atentos a esta outra forma de pensar o tempo. E isto se
aplica aos espaços familiares, educacionais,
laborais ou no plano mais íntimo da nossa própria subjetividade.
Devemos reconhecer que é muito difícil definir com
antecedência quanto tempo um sujeito ou grupo de sujeitos necessitará para
desenvolver uma determinada brincadeira. Em muitos espaços institucionais
geralmente o tempo é limitado, controlado e gerenciado conforme lógicas que
necessariamente entram em conflito com a experiência lúdica.
Benjamin Franklin (1748) utiliza uma fórmula que
acabou se tornando um modelo cultural a ser imitado e respeitado: “Time is
money”. Segundo esta lógica, o brincar deve gerar algum tipo de função na
cadeia produtiva. Se isto for assim, se formos trabalhar conforme esta lógica,
estaríamos destruindo e anulando uma das condições do brincar: o brincar pelo
brincar.
Perante esta lógica:
- cada vez foi mais restrito o tempo disponível para
atividades lúdicas;
- menosprezo ao valor do lazer;
- menor interesse por parte da cultura nas
atividades ligadas ao divertimento;
- criação de uma representação social associando
brincar com “não produtividade”.
A lógica da sociedade industrial e do modelo
capitalista ofereceu o marco filosófico e político que derivou na elevação do
risco de eliminar ou restringir as atividades lúdicas na vida das crianças.
LEGALIDADE
Por isso, quando foi elaborada a Declaração dos
Direitos da Criança, em 1959, foi necessário incluir no princípio 7º um
parágrafo que obriga o Estado, a sociedade e autoridades públicas a promoverem
o gozo do direito ao brincar e à diversão (ONU, 1959).
A Lei Federal n° 11104, de 21 de março de 2005
(BRASIL, 2005), 14 Conceito de Brincar
estabelece a obrigatoriedade de contar com uma
brinquedoteca a toda unidade de saúde que ofereça internação na área
pediátrica.
Foi muito demorado o processo cultural, social e
histórico que permitiu o reconhecimento da infância como uma etapa particular
da vida das pessoas e que as crianças
não são nem homens nem mulheres em dimensões reduzidas.
BRINQUEDO
O brinquedo está condenado a ser um objeto sujeito a
transformações. O brinquedo está destinado a ser usado e o uso supõe
deterioração, rupturas, perdas. O único brinquedo que não se rompe, que não se
quebra, que não se deteriora, é o brinquedo que não se usa. Tendo isso como base,
pode-se afirmar que o primeiro brinquedo que conhecemos é nosso próprio corpo.
AGRESSIVIDADE
O brincar possibilita o deslocamento da
agressividade para outros fins mediante a simbolização das representações às
quais essa energia está associada. Poder construir fantasias e, na medida do
possível (conforme as possiblidades linguísticas do sujeito), colocar em
palavras o potencial agressivo, permite que cada sujeito aprenda a gerenciar e
aceitar esta tendência. O convívio social, a interação com os outros dependem
desta capacidade de lidar, canalizar e controlar os impulsos. Já que: “Dessa
forma, tão importante quanto dar condições à criança de brincar é dar limites
claros e objetivos, que a ajudem a trabalhar sua impulsividade, onipotência e
voracidade, assim como a aprender a lidar com a própria destrutividade”.
VYGOTSKY
Lev
Semenovich Vygotsky nasceu em 1896 na Bielo-Rússia e morreu
em 1934. Graduou-se na Universidade de Moscou, com aprofundamento em
literatura, realizando estudos também nas áreas da Medicina e do Direito.
Desenvolveu trabalhos na área de aprendizagem escolar, infância e educação
especial.
Vygotsky admite que, no começo da vida de uma
criança, os fatores biológicos superam os sociais.
Aos poucos a integração social será o fator decisivo
para o desenvolvimento do seu pensamento.
Desde que nasce a criança está em contato com os adultos,
e estes irão mediar a relação dela com o mundo.
Vygotsky
(1991) entende que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta,
passiva e determinista, pois toda a relação é mediada por instrumentos ou
signos construídos nas relações sociais e culturais. O uso desses recursos é
específico da espécie humana.
Os instrumentos
têm a função de regular as ações dos homens sobre o mundo, permitindo que este
os modifique, facilitam nossos trabalhos. São exemplos de instrumentos
os talheres.
Os signos,
por sua vez, permitem o controle e a regulação das atividades do indivíduo e
entre indivíduos. Os signos são construídos culturalmente, auxiliam na
comunicação entre os indivíduos. São exemplos de signos a representação gráfica
(como as placas de trânsito), os sistemas numéricos, as diferentes línguas.
Para Vygotsky (1991), a brincadeira é a porta do
mundo adulto. O autor compreende que a brincadeira é uma atividade social da
criança, e através desta a criança adquire elementos indispensáveis para a
constituição de sua personalidade e para compreender a realidade da qual faz
parte. Vygotsky pesquisou as fases do desenvolvimento da criança.
A habilidade de aprender com o passado para
interferir no presente não nasce com o homem, mas a partir dos três anos de
idade a criança é capaz de perceber que determinadas situações só poderão ser
aprendidas no futuro, e outras, imediatamente.
A partir dos três anos de idade, Vygotsky (1991)
descreve que inicia o processo imaginativo da criança. Só a partir dessa idade
é que a imaginação, a fantasia aparece na criança, surgindo a partir da ação. O
início ao mundo adulto se dá através da interação com a brincadeira.
Na brincadeira, a criança cresce socialmente, aceita
as atitudes e as habilidades importantes para conviver em seu grupo social. No
ato de brincar, a criança pode prever os seus papéis e os seus valores futuros.
“A imaginação vai ajudá-la a expandir as suas habilidades conceituais. A
criança, na sua função imitativa, aprende a conviver com as atividades
culturais; empregando a brincadeira ela estará estimulando o seu
desenvolvimento, aprendendo as regras dos mais velhos” (VYGOTSKY, 1991, p.98).
Vygostky
(1991) afirma que o ser humano encontra-se subordinado a uma dupla modificação
em sua evolução, seja ela de fatores biológicos ou de fatores sociais.
Maturação,
estamos nos referindo às modificações que acontecem ao longo da evolução dos
indivíduos, as quais se baseiam na mudança da estrutura e da função das
células;
Desenvolvimento
trata-se do processo mediante o qual se põem em andamento as potencialidades
dos seres humanos;
Aprendizagem
mediante
os processos de aprendizagem, incorporamos novos conhecimentos, valores e
habilidades que são próprias da cultura e da sociedade em que vivemos.
AS REGRAS DO BRINCAR
Para Vygostky
(1991), o brincar, no desenvolvimento infantil, deve ser sempre proporcionado
de forma prazerosa. Porém, em determinados momentos, isso não acontece, o que
acaba desagradando a criança, pois o ato de ganhar ou perder, no final, pode
ser muito desagradável para elas.
O jogar com normas, o brincar com regras são mais
praticados na idade em que a criança ingressa no pré-escolar e continua daí em
diante, no seu dia a dia. Pelo uso do brinquedo, a criança aprende a agir de
forma cognitiva; os objetos têm um aspecto motivador para as ações da criança.
Através da brincadeira, a criança pode reproduzir a
realidade. Por exemplo, ao brincar de papai e mamãe, ela reproduz seu
cotidiano. Assim, podemos definir a imitação como um feitio da criança em poder
relembrar.
Na brincadeira simbólica a criança se apoia no real,
usa a imitação e chega à representação criativa. O modo de brincar simbólico
vem a ser uma manifestação da estruturação mental representativa da criança. O
símbolo se alicerça na construção do real. O brinquedo, entendido
como suporte material da brincadeira, estimula a
representação, a expressão de imagens.
PLANEJANDO
A ATIVIDADE
As atividades selecionadas para atingir os
objetivos, através da utilização dos conteúdos, dão ao aluno a possibilidade de
identificar-se com experiências, de inteirar-se com o meio, de atuar segundo
suas características individuais, necessidades, interesses e possibilidades.
1 Favorecer a aprendizagem criadora;
2 Permitir que os objetivos sejam atingidos,
favorecendo o desenvolvimento e fixação do conhecimento e as atitudes ou
habilidades determinadas pelos objetivos.
3 Favorecer a aquisição de atitudes, de
conhecimentos e de habilidades;
4 Misturar experiências (ponto comum para se inter-relacionarem;.
5 Respeitar o nível da criança;
Os jogos de
construção (blocos, Lego e Minecraft) proporcionam à criança situações que
deve resolver, tais como problemas de equilíbrio, ordenação e resistência.
Através da experiência direta, as crianças estabelecem contatos diretos com as
pessoas e situações, aprendendo a relacionar-se, a comunicar-se e repartir
material e atividades. Outro tipo de atividade é a música e a expressão
corporal, essencialmente criativa. Essas atividades estimulam não só a
expressão e a comunicação, mas também a aquisição de conhecimentos, atitudes e
habilidades.
As atividades que favorecem o desenvolvimento motor,
por exemplo, garantem agilidade, destreza, boa postura, noções de
companheirismo, o esperar a vez, noções de altura, direção.
JEAN
PIAGET
Analisar a importância
da atividade lúdica, como, por exemplo, do brincar, brinquedo e jogo, nesse
procedimento, vai nos auxiliar a entender o quanto é importante usarmos esses
recursos em nossas atividades pedagógicas. O brinquedo estimula a representação
da realidade.
De acordo com Piaget (1971), o desenvolvimento da
inteligência está voltado para o equilíbrio; a inteligência é adaptação. O
homem estaria sempre buscando uma melhor acomodação ao ambiente. Assim podemos
compreender a importância do brincar para o desenvolvimento da criança. Através
da brincadeira, a criança se apropria de conhecimentos que possibilitarão sua
atuação sobre o meio em que está inserida.
AS
FASES DO DESENVOLVIMENTO SEGUNDO PIAGET.
ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR: ATÉ DOIS
ANOS
O crescimento cognitivo durante este estágio se
baseia, especialmente, em conhecimentos sensoriais e ações motoras. Os bebês
adquirem conhecimentos sobre os objetos através de suas
interações com eles. O seu corpo é o primeiro
brinquedo utilizado pela criança. Desde os primeiros meses de vida ela explora
seu corpo e a partir dele começa a conhecer os estímulos externos.
Piaget (1971) aponta os jogos de exercícios como
sendo essencialmente uma característica da fase sensório-motora, sendo quase
que específicos nos dois primeiros anos de vida. Assim que a criança inicia a
fala, esses jogos tendem a desaparecer. A criança age para ver o que sua ação
vai produzir, sem que por isso se trate de uma ação exploratória. O efeito é
buscado pelo efeito naquilo que ele tem justamente de comum: a criança toca e
empurra, desloca e amontoa, justapõe e superpõe para ver no que vai dar.
Nesta fase é fundamental a presença do adulto, pois
dele irá depender o crescimento do bebê e sua relação com o meio. Os laços de
afetividade presentes na relação do adulto com a criança já estabelecem uma
relação lúdica desta com o mundo.
DE DOIS A SETE ANOS: BRINCANDO E
ENTENDENDO OMUNDO
ESTE
ESTÁGIO É DENOMINADO PRÉ-OPERACIONAL.
Sua relação com o mundo permanece a mesma, somente
com o início da linguagem é que a criança vai redimensionar seus esquemas.
Neste momento, a criança começa a utilizar os
processos de imitação e a brincadeira passa a ter o sentido de assimilar o que
ela percebe no seu ambiente. Brincar, para a criança de dois a três anos, é um
meio de expressão que simboliza suas experiências, o conhecimento de seu
pequeno mundo, seus desejos, suas frustrações, seus sonhos e suas fantasias. A
imitação que dá origem a imagem mental, pelo meio de cenas já interiorizadas,
titulamos de jogos simbólicos.
É necessário fornecer vários estímulos para que a
criança possa relacionar os objetos que a rodeiam com seus nomes propriamente
articulados e criar suas imagens mentais.
É preciso que ela conheça, por exemplo, a bicicleta,
que reconheça e relacione o nome atribuído a este objeto, para que
posteriormente ela possa atribuir este nome
à figura de uma bicicleta, e ao ouvir a palavra bicicleta possa formar sua imagem mental.
A capacidade de trabalhar com símbolos é denominada
função semiótica. Através de brincadeiras, de jogos, a criança desenvolverá
essa função naturalmente.
Nesta fase do desenvolvimento, quando uma criança de
quatro anos brinca com outra de dois anos, ela usa linguagem mais
simplificadamente, procurando se fazer entender pela outra criança.
Realizar atividades que proporcionem bases para a
linguagem e ensinar conceitos é extremamente
importante nesta fase. Passear com a criança, leva-la ao zoológico,
jardins, teatros e concertos.
DE
SETE A 11 ANOS: O CORPO GANHA ESPAÇO NA BRINCADEIRA
ESTÁGIO
PRÁTICO DO PENSAMENTO
É nesse momento que as práticas esportivas passam a
ter significado para ela. Pela prática do esporte a criança aprende a cooperar,
a conviver com as regras, adquire funções intelectivas. Ao introduzirmos jogos
de regras, ela iniciará a consciência dos seus atos, poderá ter o conhecimento
do certo e do errado.
Por meio da curiosidade, a criança é capaz de romper
os esquemas já existentes, ela estará mais questionadora, gostará de desafios,
de resolver situações-problema. A criatividade será sua principal
característica. As brincadeiras, nessa fase, devem ter sempre a finalidade da
influência
social; os jogos com regras devem ter prioridade.
Com os jogos ela vai instruir-se a relacionar-se e a acolher as regras de
convivência.
DE 11 ANOS EM DIANTE: ESTOU CRESCENDO; DO
QUÊBRINCAR?
ESTÁGIO OPERACIONAL FORMAL
Embora a lógica ainda esteja ligada à realidade
física, as situações podem ser organizadas, classificadas. Nessa fase ela não
resolve as situações por ensaio e erro, já consegue analisar as situações antes
de agir.
Os jogos, nessa fase, tornam-se ainda mais
encantadores aos jovens. Eles adoram realizar atividades que exijam equilíbrio
físico, e de trabalhar seus músculos, através de exercícios adequados.
O adolescente passa pelo período de transição entre
a infância e a vida adulta. Emocionalmente ainda está fragilizado. Aí ele já
não aceita brincar com os mais novos, mas ainda não consegue penetrar no mundo
adulto que o ridiculariza.
Dica Express
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