AS MONARQUIAS IBÉRICAS E A EXPANSÃO MARÍTIMA
O período inicial da Idade Moderna – entre os
séculos XVI e XVII – foi dominado politicamente por dois países com origens
semelhantes. A formação das monarquias ibéricas, Portugal e Espanha, está
ligada diretamente às lutas contra os mouros (muçulmanos) que ocupavam boa
parte da península desde o século VIII. Ao concluírem as conquistas, esses
países se lançam em expedições de exploração marítima, que tiveram como
resultado o estabelecimento de rotas comerciais bastante lucrativas, durante o
processo, eles ocuparam grande parte da América.
AS
MONARQUIAS IBÉRICAS
Os pequenos reinos cristãos que se formaram ao
norte da península Ibérica – leão, Castela, Navarra e Aragão – mantiveram sua
independência à custa de tributos aos mouros. Em meados do século IX,
descobriram-se, na pequena localidade de Compostela, restos mortais atribuídos
ao apóstolo São Tiago. O local logo se tornou destino de milhares de
peregrinos, a proximidade dos domínios muçulmanos tornava a peregrinação mais
perigosa, cavaleiros de todos os lugares da Europa, ao virem a Santiago de
Compostela, começavam a formar um contingente poderoso para o combate aos
“infiéis”. Esses cavaleiros ao chegarem, traziam consigo a mentalidade feudal.
No entanto, o feudalismo ganhou, nessa região,
contornos particulares: em vez de garantir uma grande autonomia a dezenas ou
centenas de senhores poderosos, o feudalismo ibérico ficou muito atrelado ao
poder político e militar dos reis. Que conseguiram obter a fidelidade dos
cavaleiros para si, nunca tiveram de competir com senhores tão ou mais
poderosos que eles. Os reis ibéricos consolidaram sua autoridade, assumiram o
controle direto sobre a administração e o sistema jurídico e centralizaram o
poder em estados absolutistas.
FORMAÇÃO
DO ESTADO PORTUGUÊS
No litoral atlântico, o primeiro estado
centralizado surgiu em 1139, quando Dom Afonso Henriques transformou o Condado de Portucale – que
seu pai, Henrique de Borgonha, havia recebido como feudo do rei Afonso VI de
Leão e Castela – no reino de Portugal
e fundou a dinastia de Borgonha. Portugal se expandiu ao sul, conquistando aos
mouros a região ao Sul do rio Tejo. A conquista era comandada por monges
guerreiros, organizados de Avis e dos Templários, o que dava à expansão um
caráter oficial de Cruzada.
A
REVOLUÇÃO DE AVIS
Em 1383,
com a morte de D. Fernando I, sem deixar
herdeiros, a dinastia de Borgonha chegou ao fim. As tentativas de D. Leonor Teles, viúva do rei e regente
do trono de anexar o reino a Castela levaram alguns segmentos da população a apoiar a coroação de D. João,
mestre da ordem de Avis, que era irmão ilegítimo de D. Fernando I. Entre
esses grupos estavam comerciantes e banqueiros, que desejavam manter a
independência de Portugal sob o comando de um rei que favorecesse os
empreendimentos comerciais. Vitorioso D.
João I deu Origem à dinastia Avis, que reinou até 1580.
D. João I tratou de submeter à nobreza á sua
autoridade, criando um Estado monárquico fortemente centralizado. As empresas
comerciais eram controladas diretamente pelo rei, que garantia a sua exploração
a quem ele desejasse, nobres e burgueses participavam, exercendo influências
sobre o rei. As relações pessoais com o monarca eram o elemento decisivo para
uma concessão comercial.
A
EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA
Portugal, sempre manifestou uma forte
tendência ao desenvolvimento das navegações marítimas. Contudo para que a
navegação marítima fosse viável, um grande desenvolvimento tecnológico era
necessário. Beneficiando-se dos contatos de Portugal com diversos reinos
islâmicos, foi possível aperfeiçoar as tecnologias de navegação e adaptá-las ao
oceano. Dentre as inovações incluíam-se as caravelas, a balestilha e
instrumentos trazidos pelos árabes, como a bússola, o astrolábio e o quadrante.
Esses instrumentos permitiram a criação de cartas náuticas e da localização
precisa de um navio, o que era essencial para se traçarem as rotas marítimas.
A expansão marítima foi
iniciada pelo rei D. João I em 1415, ao invadir e conquistar a cidade de Ceuta,
no norte da África. Importância estratégica, situada no lado africano do
Estreito de Gibraltar, importância Simbólica, por estar inicialmente em posse
dos muçulmanos, a noção de continuidade das cruzadas, agora avançando pela
África.
Diversos navegadores empreenderam viagens que
lhes permitisse chegar até a Índia, onde eles buscavam os cobiçados produtos
orientais: sedas, especiarias e produtos de valor elevado no comércio europeu.
Em 1488, Bartolomeu Dias atravessou o Cabo da Boa Esperança, local de encontro
dos oceanos Atlântico e Índico, dez anos depois, a esquadra comandada por Vasco
da Gama chegou à índia.
EXPLORAÇÃO
DO ORIENTE
Estima-se que a expedição de Vasco da Gama
tenha proporcionado um lucro superior a 6000% (mais de 60 vezes o investido), o
que encorajou a preparação de diversas outras viagens.
O domínio português sobre a Índia se provaria
frágil, a concorrência de outros países, da Espanha da Companhia das Índias
orientais Holandesas, diminuiu aos poucos a influência portuguesa na região. A
decadência econômica que seguiu foi em parte superada pela exploração das
colônias na América, especialmente com a produção em grande escala de açúcar e,
no século XVIII, de ouro, contudo o país se tornou cada vez mais dependente de
acordos desvantajosos com outros países.
O
SEBASTIANISMO
Na segunda metade do século XVI, Portugal
mantinha sua autonomia à custa de alianças estratégicas, que geralmente
envolviam casamentos dinásticos com infantes espanhóis. Isso trazia um risco
muito grande de anexação ao vizinho em caso de extinção da dinástica de Avis.
Gerava também uma linhagem de reis “frágeis fisicamente”, pois eram muito
comuns os casamentos consanguíneos.
Em 1554, o Infante D. João morreu aos 17 anos.
Duas semanas depois, seu filho D.
Sebastião nasceu, este sonhava com conquistas e batalhas para a glória da
Cristandade e, em 1578, engajou-se em uma cruzada contra os mouros no Marrocos,
de onde nunca retornou. Tinha 24 anos e nenhum herdeiro.
O povo
se recusou a acreditar que D. Sebastião tivesse morrido. Um dia o rei haveria
de retornar para restaurar a grande glória portuguesa. Essa crença foi
chamada de Sebastianismo, comparada
às lendas do Rei Artur.
D.
Sebastião
No contexto o Sebastianismo era encarado como
um reflexo da desesperança dos portugueses com a decadência do comércio com o
Oriente e com os rumos do País.
A
UNIÃO IBÉRICA
Com a morte de D. Sebastião, subiu ao trono o cardeal D. Henrique (seu tio, já
idoso e sem herdeiros), dois anos depois deixando vago o trono de Portugal.
Filipe II da Espanha subornou o novo governo e, depois, invadiu Lisboa com seu
exército e fez-se coroar rei de Portugal. A única exigência que os portugueses
fizeram foi a manutenção do controle do país e das colônias em mãos
portuguesas.
A união Ibéria era parte de um projeto, mais
amplo de criação de um vasto império sob o domínio espanhol. Para Portugal,
além da perda da independência política, a principal consequência da União
Ibérica foi a nova rivalidade com os holandeses, que eram adversários ferozes
da Espanha. Essa Rivalidade foi o motivo que impulsionou as invasões holandesas
à Pernambuco.
A
RESTAURAÇÃO
Os acordos para manter a autonomia
administrativa portuguesa, assinados em 1581, foram aos poucos sendo
desobedecidos pelos espanhóis, em consequência crescia a oposição ao domínio
estrangeiro. Em 1640, com governantes
espanhóis enfraquecidos pelo envolvimento na guerra de trinta anos (1618-1648),
um grupo de rebeldes coroou o duque de Bragança como D. João IV, novo rei de
Portugal. A consolidação da independência só veio em 28 anos depois, quando os
conflitos da chamada Guerra a Restauração se encerram e a Espanha reconheceu a
derrota.
Mas a restauração custou muito caro a
Portugal. Enfraquecido economicamente, o país precisava recuperar suas colônias
e para isso envolveu-se em guerras na América, na África e no Oriente. Para
retomar o nordeste açucareiro Portugal precisou derrotar e depois pagar uma
pesada indenização aos holandeses. A produção de açúcar holandês gerou uma
crise econômica profunda em Portugal, precisou recorrer ao apoio inglês para
sobreviver politicamente e economicamente, se viu obrigado a assinar o Tratado
de Methuen (1703) no qual obrigou-se a comprar os produtos ingleses e, em
troca, forneceria parte da produção, principalmente de vinhos do Porto. Mas o
acordo comercial era desigual, gerava um enorme déficit todos os anos aos
cofres portugueses, que durante boa parte do século XVIII só pode ser
compensado graças ao ouro retirado do Brasil.
A
MONARQUIA ESPANHOLA
Até 1700, o país esteve ligado às disputas
políticas da dinastia Habsburgo e não existia como uma nação plenamente
constituída. Foi apenas com a queda do rei de Habsburgo, Carlos II, e com a
crise gerada pela Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1714), que a política do
país foi desvinculada do restante da Europa.
A RECONQUISTA ESPANHOLA
O Domínio muçulmano não atingiu Astúrias,
colocando-se sob a tutela de Carlos Magno, os asturianos conseguiram estender,
aos poucos, seus domínios, consolidaram-se quatro reinos cristãos: Leão,
Castela, Navarra e Aragão. O
enfraquecimento do poder dos califas de Córdoba, a partir do século XI, deu oportunidade para os reinos se expandirem. No final o Século XV,
Castela era o reino mais poderoso da península de Aragão consolidava a Paz
interna com o Rei Fernando, o Católico.
OS
REIS CATÓLICOS
Para selar
a união entre os dois reinos, o rei Fernando (Aragão) casou-se com a Rainha
Isabel (Castela), porém os reinos eram governados separados, um tipo de governo
chamado “união pessoal”. A unificação só aconteceria, quando com a morte de
ambos, o herdeiro do casal assumisse os dois tronos. Profundamente imbuídos do
espírito de cruzada da Reconquista, os chamados Reis Católicos estabeleceram
uma forte aliança entre seus reinos e a Igreja.
Em 1492,
os mouros foram expulsos da península Ibérica e a Reconquista estava oficialmente terminada.
Cristóvão Colombo retornava com alguns presentes e promessas de riquezas
fabulosas. Nas décadas seguintes, a Conquista da América renderia riquezas para
a Coroa Espanhola, a colonização da América ganhava ares de uma nova
Reconquista.
APOGEU
DA MONARQUIA ESPANHOLA
Os reis católicos estabeleceram uma estratégia
para tornar a Espanha uma grande potência no Continente europeu, que
permitisse, por meio de casamentos dinásticos, que o continente viesse a ser
unido sob a coroa espanhola. A aliança
com Portugal seria reatada constantemente nas décadas seguintes, através de
diversos casamentos, e acabou levando à união
entre as duas coroas em 1580. Já a aliança com o Sacro Império Romano representou
o período de maior expressão e, depois, foi a origem da decadência do poder
espanhol na Europa.
A terceira filha dos reis católicos, Joana, foi considerada Louca e afastada, devido disputas de
poder entre seu pai, seu marido e seu filho,
que mais tarde subiria ao trono
espanhol como Carlos I. Em 1519,
coma morte de Maximiliano de Habsburgo (seu avô), Carlos I precisou disputar o
trono com Francisco I, rei da França. Carlos
I venceu comprando os votos dos eleitos com os metais preciosos vindos da
América e com um empréstimo
contraído com o Banqueiro Jacob Fugger. Com o trono veio junto uma intensa
rivalidade com Francisco I, com quem travaria guerras na disputa pela
supremacia do continente por mais de vinte anos.
O imperador Carlos V do Sacro Império foi o
governante mais poderoso de sua época e controlou um dos impérios mais extensos
de todo o mundo. Foi o auge do domínio dos Habsburgo na Europa.
O
FIM DOS HABSBURGO
Os conflitos que Carlos V se envolveu para
manter tantos domínios desgastaram o reino e seus tesouros, em 1556, renunciou
ao trono da Espanha em favor de seu filo e ao Sacro Império em favor de seu
irmão. O Filho de Carlos V, Filipe II da Espanha, incorporou Portugal aos seus
domínios em 1580, seu neto, Filipe IV, perdeu esses domínio 60 anos depois,
mais pela fraqueza espanhola do que pela força de Portugal. O domínio Habsburgo
na Espanha chegou ao fim melancólico com Carlos II, chamado O Amaldiçoado –
único herdeiro do trono era raquítico, retardado mental e estéril. Sua morte
deixou vago o trono e o resultado foi a Guerra de Sucessão Espanhola
(1701-1714).
A
EXPLORAÇÃO DA AMÉRICA
Uma série de tratados e bulas papais na
segunda metade do século XV garantiram a Portugal a posse de todas as terras
conquistadas ou por conquistar aos sul das Ilhas Canárias. A Espanha teria
direito a todas as terras ao norte desse paralelo.
Durante a Idade média e o Renascimento,
entendia-se que era direito do papa decidir sobre as Ilhas do Mundo. A
cosmografia da época da expansão marítima entendia que haveria apenas três
grandes “massas de terra” no mundo; portanto qualquer nova terra a ser
descoberta seria, necessariamente, uma Ilha, sob jurisdição papal.
Alexandre
VI elaborou a Bula Intercoetera
(1493), que estabelecia que todas as regiões localizadas a cem léguas do oeste
de arquipélago de Cabo verde pertenciam à Espanha, e as demais seriam
portuguesas, contudo, no ano seguinte assinou-se um novo acordo entre os dois
países, o Tratado de Tordesilhas,
que deslocava essa linha de 100 para 370
léguas do arquipélago de Cabo verde.
Portugal concentrou seus interesses na
comercialização das especiarias, contudo, devido concorrência dos franceses, e
sem conseguir encontrar metais preciosos, voltou seu interesse para a produção
de açúcar em engenhos de cana. A Espanha Descobriu em suas colônias enormes
jazidas de metais preciosos – ouro no México e na Colômbia, prata na Bolívia,
entre outras.
Referências Extras/ Imagens
D. Sebastião - http://www.cruzadavascaina.com.br/wp-content/uploads/2012/09/D.-Sebasti%C3%A3o-001.jpg
Árvore de família da Casa de Habsburgo - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqtHSENDEyCwa2WuTBSJJg17c4c1JZRGrgJRk1SpjQV1XA_jCvzcy3yHqaeAIkzgCP2VJcrM_aGloQ3NtvHhHCPs6kaurRnUBxueprvxxwP-KhIjKEQJ1TIRJNQ1S8gCJce8UAeYnARDw/s1600/%25C3%2581rvore+de+fam%25C3%25ADlia+da+Casa+de+Habsburgo.jpg
(editada)
Tratado de Tordesilhas - https://santarosadeviterbo.files.wordpress.com/2013/03/tratado-de-tordesilhas-mapa.jpg
DAUWE, Fabiano. História
Moderna, Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial,2008;
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