Conflito Na Irlanda Do Norte - The Troubles
Historicamente, a dominação britânica sob o território
irlandês aconteceu durante o governo de Henrique II, no século XII.
Nesse período, o processo de formação das monarquias nacionais e o problema da
falta de terras motivaram esse processo de dominação que se concluiu com a
assinatura do Tratado de Windsor. Por esse documento, ficava garantido o
direito da Inglaterra em estabelecer as suas leis em território irlandês.
Chegando ao século XVI, momento em
que as religiões protestantes afloravam,
o estabelecimento da Igreja Anglicana na
Inglaterra promoveu uma séria transformação nas relações junto à Irlanda. A maioria católica do território irlandês
resistiu ao processo de conversão religiosa ao anglicanismo, imposto como
meio de reafirmação da autoridade monárquica em seus territórios.
No século
seguinte, essa rivalidade se ampliou quando o rei Jaime I implantou um projeto de colonização da região de Ulster,
do qual os irlandeses foram claramente ignorados. A situação excludente acabou alimentando a realização de várias
rebeliões entre as décadas de 1640 e 1650, quando as autoridades britânicas
impuseram uma violenta repressão contra os revoltosos e repassou parte do
território irlandês para produtores ingleses.
O conflito da Irlanda do Norte começa no ano de 1800, com o Act of Union (em inglês, ato de união ou
unificação), posto em prática em 1 de
janeiro de 1801, e que unificou os
reinos da Grã-Bretanha e Irlanda, dando origem ao Reino Unido da Grã-Bretanha e
Irlanda do Norte, entidade dominada na prática pelos ingleses, e que foi a
grande potência econômica, militar e cultural durante toda a sua existência.
Apesar da preponderância do país no campo econômico, especialmente por
ser o principal propulsor das duas fases
da Revolução Industrial, o domínio britânico não trouxe melhoras
substanciais à população irlandesa, uma das mais pobres da Europa na época.
Crises alimentares durante a metade do século XIX eram comuns, o que provocava
a emigração em massa dos locais, especialmente para os Estados Unidos e
Austrália. Outro fator, e (mais crítico) que tornava a convivência turbulenta
era a diferença religiosa: a Irlanda é uma nação historicamente de
forte influência católica, enquanto
que os ingleses seguem a corrente anglicana, originada de um cisma entre o monarca inglês e Roma.
Atingindo o século XIX, os movimentos em favor da autonomia
irlandesa ganharam significativa força com a disseminação das ideias liberais.
No ano de 1829, um movimento de
feição nacionalista conseguiu a conquista de alguns direitos civis, entre os quais se incluíam a ocupação de cargos
públicos. Na metade do século XIX, essa mesma população sofreu com doenças e a fome, que juntas, mataram 800.000
irlandeses em um curto espaço de tempo.
ORIGEM DO CONFLITO NOS SÉCULOS XIX E XX
Ao fim do século XIX, crescia o movimento pelo "Home Rule", ou seja, o direito da
Irlanda dentro da união de ter seu próprio parlamento e ter jurisdição plena
sob assuntos internos. Este é conquistado poucas semanas depois do início da
Primeira guerra mundial, em 1914. O descontentamento com a união, porém, não
cessa, e logo a Irlanda luta pela
independência, conquistada em 1922 por meio de um conflito armado iniciado em
1919.
Assim era criado o Estado Livre
da Irlanda, por meio do Tratado anglo-irlandês de 1921. Este previa, porém, que cada um dos 32 condados do novo país
podiam exercer o livre direito de permanecerem unidos à Grã-Bretanha. Foi
exatamente o que aconteceu com seis destes condados, equivalentes à região da
Irlanda chamada de Ulster (nordeste da ilha), onde parte significativa da
população era protestante e tinha muito mais afinidade com os britânicos do que
o restante dos irlandeses. O resultado foi que o Ulster (com capital em
Belfast) seguiu ligado à Grã-Bretanha, situação que se mantém até hoje.
No ano de 1937, a independência irlandesa foi reafirmada com a
organização de sua primeira cara constitucional. Em 1949, os britânicos
reconheceram a autonomia irlandesa e permitiram que a região do Ulster também
se tornasse independente com a criação da Irlanda do Norte.
A Irlanda do norte segue como uma das regiões mais pobres dentro da Grã-Bretanha,
situação agravada pela divisão da população, que utiliza a religião como
divisor fundamental: do lado católico estão agrupados todos os que reivindicam
a união do Ulster com a República da Irlanda, em especial o famoso movimento
independentista Sinn Féin, e seu
braço armado, o IRA (Exército Republicano Irlandês) que vem atuando por meio de sequestros, assassinatos e outros
atos de vandalismo que consolidaram uma tensa relação entre as autoridades
britânicas e o país em questão; do outro lado estão
os unionistas ou orangistas, de
orientação protestante e que lutam para preservar o status quo.
O conflito no Ulster é um
exemplo clássico de que no mundo ocidental, de religião cristã há também
conflitos fomentados pelo fundamentalismo religioso, utilizado ao mesmo tempo
para sustentar bandeiras político-ideológicas. Ao longo dos anos, as mortes por
repressão das autoridades britânicas, além do choque entre os dois grupos
contrários causaram grande número de mortes, especialmente a partir da década de 70 do século XX, quando a Grã-Bretanha começou a experimentar um
declínio econômico social que alimentou as diferenças na região. Para
tornar a situação pior, as autoridades britânicas foram acusadas por décadas de
favorecer os irlandeses protestantes, dando importantes postos administrativos
aos mesmos e favorecendo economicamente tal comunidade.
O conflito na Irlanda do Norte (também conhecido em
inglês como The Troubles) foi um
conflito de grande violência pelo estatuto
político da Irlanda do Norte, que causou grande perda de vidas durante a segunda metade do século XX.
Tratava-se, em primeiro lugar, da população protestante (maioria), em favor de preservar os laços com a Grã-Bretanha,
e do outro lado a população católica
(minoria), em favor da independência ou a integração da província com a
República da Irlanda, ao sul, país predominantemente católico. Ambas as
partes recorreram às armas, e a província mergulhou em uma espiral de violência
que durou desde o final da década de
1960 até a assinatura do Acordo de Belfast ou Acordo de Sexta-Feira Santa
em 10 de Abril de1998, que
estabeleceu as bases para um novo governo, em que católicos e protestantes compartilhassem o poder. No entanto, a
violência continuou após essa data e ainda continua de forma ocasional e em
pequena escala.
O conflito começou
na segunda metade dos anos 60 pelo
movimento dos direitos civis contra a
segregação religiosa vivida pelos católicos. A oposição entre os republicanos
(principalmente o Exército Republicano Irlandês - IRA), lealistas e unionistas
sobre o futuro da Irlanda do Norte resultou em um aumento da violência durante trinta anos pelos grupos
paramilitares de oposição de cada lado, a Policia Real do Ulster, diferentes
seções do exército britânico, mas também grande parte da população civil. As
campanhas de violência acompanhada pela incapacidade do poder político na
Irlanda do Norte, levou a Grã-Bretanha e a República da Irlanda para
estabelecer uma solução pacífica no
Acordo de Belfast, apesar da pressão da comunidade internacional.
A violência do conflito muitas vezes ultrapassou as
fronteiras da Irlanda do Norte, estendendo-se à República da Irlanda e ao Reino
Unido. The Troubles tinha tanto
dimensões políticas e militares (ou paramilitares). Seus participantes incluíam
políticos e ativistas políticos de ambos os lados, republicanos e lealistas
paramilitares, e as forças de segurança do Reino Unido e da República da
Irlanda. Enquanto que o conflito nunca
foi uma guerra declarada, o grande número de baixas sofridas pelas forças
britânicas (725 mortos e milhares de
feridos), os recursos utilizados pelo governo britânico por mais de 25
anos, a destruição causada em muitas cidades e ao povo da Irlanda do Norte e a
Inglaterra e o complexo arsenal utilizado pelos grupos paramilitares sugerem
que o conflito foi uma guerra de facto.
Foi a partir do final
dos anos 60 que as hostilidades se agravaram. Em 1969, o governo britânico
ocupou militarmente o Ulster e, em seguida, dissolveu o Parlamento de Belfast,
assumindo as funções políticas e administrativas.
Entre os episódios mais infames de violência na região está o chamado
"Bloody Sunday" (Domingo Sangrento) de 30 de janeiro de 1972, onde 13
civis foram mortos pela ação repressiva da polícia britânica. Os mortos
faziam parte de uma passeata organizada
pela Northern Ireland Civil Rights
Association, que lutava por direitos
iguais entre católicos e protestantes na região. O trágico acontecimento
foi imortalizado pela banda irlandesa U2 na canção "Bloody Sunday".
Ao longo de todo o século XX, observamos que o confronto entre a
Inglaterra e o IRA sugeria a extensão de um problema praticamente irresoluto.
No entanto, a partir da década de 1990, o processo de integração das economias
europeias, com o desenvolvimento da União Europeia, contribuiu
significativamente para que essa guerra chegasse ao final.
Finalmente, em 1998, Tony Blair (premiê inglês), Gerry
Adams (Sinn Fein) e David Trimble (unionista), com a participação do
ex-presidente norte-americano Bill Clinton, assinaram o Acordo do Ulster, que concedia mais autonomia ao país.
REFERÊNCIAS
Conflitos na Irlanda do Norte. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_na_Irlanda_do_Norte>.
Acesso em 27 de setembro de 2016.
Conflitos da Irlanda do Norte. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/conflitos-da-irlanda-do-norte/>.
Acesso em 27 de setembro de 2016.
Entenda o conflito da Irlanda do Norte e a atuação
do IRA. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u43380.shtml>.
Acesso
em 27 de setembro de 2016.
SOUSA, Rainer Gonçalves. "A questão da Irlanda"; Brasil Escola. Disponível em
<http://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-questao-irlanda.htm>. Acesso
em 27 de setembro de 2016.
FONTES
EXTRAS
Perguntas & Respostas - Irlanda do Norte. Disponível em <http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/irlanda_norte/index.shtml>. Acesso em: 03 jan. 2012.
Entenda o conflito da Irlanda do Norte e a atuação do IRA. Disponível em
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u43380.shtml>. Acesso em: 03 jan.
2012.
IMAGENS
Bloody Sunday: http://i1.mirror.co.uk/incoming/article8589151.ece/ALTERNATES/s615b/Daily-Mirror-front-page-showing-Bloody-Sunday.jpg
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